Com a atenção centrada em questões relacionadas com dispositivos, software e apps, o elemento humano surge como uma questão de pormenor

By Bernardo Costa Macedo Advisor | Boyden Global Executive Search

O conceito de “transformação digital”, entendido como o processo através do qual as organizações repensam as suas estruturas e funcionalidades para alcançar uma nova etapa de eficiência e interação através da Tecnologia, encontra-se hoje plenamente presente no contexto organizacional. No entanto, o foco neste discurso está geralmente associado a novas plataformas e processos, esquecendo ou relegando para um papel secundário a sua influência sobre as pessoas e o desafio colocado às equipas responsáveis pela adoção deste paradigma emergente.

Com a atenção centrada em questões relacionadas com dispositivos, software e apps, o elemento humano surge como uma questão de pormenor. Parte da explicação reside no facto da cultura organizacional continuar a ser um dos elementos mais descurados na dimensão corporativa, especialmente quando a prioridade se encontra  em cumprir objetivos de negócio ou garantir a sustentabilidade numa fase de crescimento e evolução face a um contexto de incerteza.

Se a transformação digital é hoje encarada como fundamental para a sobrevivência do negócio, a cultura corporativa surge como o canal do qual as empresas necessitam para tornar possível alcançar esta transformação plena. Às empresas é hoje exigido que criem uma estratégia para potenciar uma evolução constante - precisam de se tornar ágeis na sua visão do futuro. O momento de realizar algumas mudanças pontuais na infraestrutura organizacional já se encontra ultrapassado.

Na verdade, a transformação digital pode ser menos sobre tecnologia e mais sobre a agilidade organizacional que as empresas podem incorporar. Num contexto em que a cultura é recorrentemente ignorada como elemento de transformação, ao adotar uma visão ampla de uma organização, dos seus condicionalismos e dos seus desafios, começa a tornar-se óbvio o papel central que cabe à cultura organizacional nesta mudança de paradigma. Podemos modificar e otimizar processos, infraestrutura e dispositivos de carácter tecnológico, mas tudo isso acaba por não ser suficiente se não for acompanhado de uma aceitação/promoção por parte das “pessoas” deste novo status quo e de uma compreensão alargada e partilhada da necessidade de o abraçar.

Qualquer mudança da cultura organizacional requer uma visão e ação concertadas por parte da Gestão de Topo, mas que não se pode limitar a determinado nível hierárquico numa estrutura tão complexa como é uma empresa a atuar no mercado. De facto, o principal desafio consiste em conseguir implementar uma cultura que seja aceite pelos colaboradores e que ajude a moldar as suas próprias funções e responsabilidades num todo coerente face a uma meta plenamente identificada. Esta transformação não pode acontecer de forma compartimentada, tratando-se de um esforço complementar no sentido de alcançar uma visão global.

A pressão é cada vez mais significativa sobre os modelos de negócio tradicionais, obrigando-os a repensar a maneira como atuam no mercado. Às empresas é exigido que reorientem a sua estratégia face a uma verdadeira mudança cultural que vai afetar todas as áreas numa organização, desde a definição de valores internos a metas e metodologias de recrutamento e à ligação estabelecida com os seus clientes.

O impacto generalizado desta nova era da digitalização é indissociável do modo como as organizações operam e vai muito além dos departamentos “tecnológicos” e dos profissionais que lidam mais diretamente com este tema. Uma organização que não compreenda assim esta vertente de atuação arrisca-se a perder oportunidades de negócio, posicionamento no mercado e, eventualmente, relevância comercial.

Não nos podemos deixar enganar: esta mudança é inevitável e cada gestor, colaborador e cliente vai ser afetado pela mesma. Uma cultura ágil e dinâmica afigura-se como crucial quando se trata de implementar uma estratégia de sucesso e é essencial no momento de repensar o modo como percebemos, abordamos e potenciamos a Tecnologia.

 

Bernardo Costa Macedo

Advisor | Boyden Global Executive Search

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