As práticas de gestão podem ser incrementadas pelo avanço do entendimento sobre como funciona nosso cérebro.
Olhando para o passado, percebo que há muito tempo sou fascinado pelos “fenômenos da mente”. Lembro do quanto fiquei intrigado quando li, ainda quase na adolescência, um livro que descrevia alguns fenômenos surpreendentes que aconteceram com pessoas sofreram algum tipo de dano no cérebro. Membros fantasmas após uma amputação, a pessoa considerar familiares como impostores, a pessoa não reconhecer que um lado de seu corpo está paralisado e afirmar que está batendo palmas movimentando apenas um dos braços...são histórias que guardo na memória há mais duas décadas, provavelmente.
Reencontrei a neurociências novamente há uns dois anos. Percebi que o fascínio quase inocente continuava e posso me considerar um entusiasta “hard” do assunto. Entretanto, foi inevitável enxergar o tema com outros olhos, com as lentes de uma experiência profissional de mais de vinte anos como consultor corporativo e headhunter.
Incluo o aprimoramento do conhecimento sobre o funcionamento do sistema nervoso como um dos tópicos de maior potencial de impacto na sociedade ao longo dos próximos anos.
O desenvolvimento de novas tecnologias tem sido capaz de oferecer a possibilidade de diferentes abordagens e análises, permitindo a abertura de novos campos de estudos e aplicações em temas diversos, como, por exemplo, aqueles relacionados ao tratamento de disfunções como a depressão e a ansiedade ou aqueles relativos à compreensão sobre funções mentais como a linguagem, a memória/ aprendizado, a cognição, as emoções e o comportamento.
Além disso, mais e mais gente com perfil e experiências diversificadas vem se interessando sobre o assunto e, assim, vão se construindo conexões entre domínios de conhecimento diferentes, enriquecendo as discussões.
Dentre outras coisas, compreender os mecanismos de nosso cérebro é entender como reagimos, como nos motivamos, como interagimos em grupo e, por isso, os efeitos desta revolução sobre o mundo corporativo são diretos.
Na realidade, alguns destes efeitos já estão presentes e fazem parte do mundo corporativo contemporâneo há algum tempo, como o neuromarketing e, de maneira menos aplicada, a dinâmica sobre nosso processo de julgamento e de tomada de decisão.
Mas, baseados em evidências e teses sólidas sobre o funcionamento de nosso cérebro, estamos diante da iminência de acessarmos um corpo de conhecimento muito maior e que permitirá uma compreensão mais ampla e confiável sobre como funcionamos socialmente, o que permitirá medirmos e aprimorarmos práticas de gestão ou fundamentos sobre os quais se apoiam a cultura de uma organização, temas que, sob o aspecto das relações humanas, só podem ter sua eficiência medida, quando muito, de maneira empírica.
Não menos importante é a possibilidade de que as decisões corporativas passem a incorporar de forma mais clara em seu processo de formulação os possíveis desdobramentos e consequências sobre aspectos de bem-estar e de preservação da saúde mental dos profissionais.
Para um campo de estudo que contempla temas técnicos e que são objeto de estudo em diversas áreas de especialização como genética, biologia, medicina, psicologia, estatística, etc, e que é relativamente novo na história da ciência, é surpreendente e ao mesmo tempo excitante testemunhar a cruzamento das teses e descobertas da neurociência para o campo da aplicação prática nas organizações.