Compreender os comportamentos associados a necessidade de nos posicionarmos nos grupos dos quais fazemos parte é um poderoso insight para melhorar decisões pessoais e para harmonizar nossas relações sociais. 

By Leonardo de Souza
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Nossa habilidade de conviver socialmente é frequentemente apontada como uma das principais razões de termos nos diferenciado como espécie. Em função de nossa capacidade em nos organizarmos em grandes grupos, fomos capazes de evoluir do patamar de um lanchinho da tarde de animais muito mais poderosos para nos tornarmos o predador mais devastador e dominante do planeta. Em um processo que se iniciou há milhões de anos, mudanças em nossos cérebros permitiram que nos tornássemos capazes de interações sociais mais complexas ao mesmo tempo em que necessidades de interações sociais mais sofisticadas influenciaram para que nosso cérebro mudasse. Duas causas e dois efeitos.

Ainda somos estes mesmos animais sociais, proprietários de um cérebro moldado com o propósito de nos tornar capazes de nos relacionar com nossos parceiros de espécie e de convivermos em grupo.

A convivência em grupos, principalmente em grandes grupos no quais era mais difícil conhecer cada indivíduo diretamente, impulsionou a necessidade de desenvolvermos e utilizarmos uma maior gama de mecanismos mentais para nos comportarmos adequadamente e assim aumentar nossa chance de sucesso (sobrevivência e reprodução).

Ainda utilizamos de mecanismos desenvolvidos por nosso cérebro social para nos posicionarmos dentro de grupos? O tempo todo.

O status é um bom exemplo. O status se fundamenta em nossa representação relativa, ou seja, comparativa, da relação do indivíduo com os demais integrantes do grupo.  Aquele que tem um alto status tem vantagens, antes expressadas pelo acesso à comida ou à parceria/o mais atraente. Atualmente é a mesma coisa, quem sabe com a adição de alguns outros itens também. Já aqueles com o filme queimado corriam o risco de serem expulsos do grupo, algo que poderia representar uma vida mais curta ou, atualmente, a perda de um emprego, por exemplo.

A preservação, o receio de perdê-lo ou busca por aumentar o status no grupo é por si só um de nossos principais motivadores de comportamento social. Esta inclinação está presente em nossa vida todo o tempo, desde o momento em que ficamos tentados a pagar 5x mais por uma cueca de com uma etiqueta específica ou quando construímos nas corporações a ideia de que você será um melhor ser vivo ao ser promovido e então poder se sentar um uma mesa no 7º andar.

A natureza é sábia e cruel e nos tornou sensíveis a mudanças em nosso status percebido. Lemos supostas alterações em nosso status como estímulos de recompensa ou de ameaça.

Não queremos perder status, algo que nos faria sentir rejeitados ou excluídos. E ser rejeitado ou excluído dói. Dói mesmo. A dor social ativa os mesmos circuitos no cérebro que a dor física e ainda traz a desvantagem de retornar sempre que lembramos do evento, ao contrário da dor física. E não queremos sentir dor. Assim, a ameaça quando detectada nos faz reagir e nem sempre da maneira mais delicada. E como somos muito mais complicados do que um interruptor, podemos enxergar uma situação em que supostamente há o risco de perda de status nas situações mais corriqueiras, com uma pergunta, um comentário, ou apenas observando o conteúdo em nossas mentes demasiadamente criativas.

Mas somos sensíveis também a situações que nos passem a percepção de aumento de nosso status. Quando isso acontece, nos sentimos recompensados, nossa sensação de bem-estar aumenta, despertam-se sentimentos prazerosos e gostamos disso. Queremos mais.

Será que já não ouvimos de nossos colegas, de profissionais de nosso time ou mesmo de nós mesmos que ficaríamos mais motivados se recebêssemos mais reconhecimento? Um elogio na hora certa é um comprimido de status.

Emoções sociais como orgulho, culpa ou vergonha, são também parte do legado de nosso caminho evolutivo que nos levou a ser uma espécie altamente sociável. São emoções conectadas com nosso desejo de nos mantermos bem aceitos e que, no caso do orgulho, geram sentimentos que reforçam nosso interesse em repetir o comportamento que nos valorizou no grupo, enquanto no caso da culpa e da vergonha geram sentimentos desagradáveis e que servem de lição para que não repitamos comportamentos que podem reduzir nosso status no grupo.

Não é fácil estarmos atentos a nem mesmo nossos próprios motivadores de comportamento social, quanto mais os das outras pessoas. Mas se conseguirmos levar em conta com mais frequências tais drives, e isso é possível, seremos capazes de construir melhores relações em todos os domínios de nossas vidas sociais.

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